Guia WNBA Draft

Radar
10 min readJul 4, 2020

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Como funciona o processo de recrutamento, quais são os critérios de elegibilidade e as remunerações acordadas no novo CBA, o histórico das primeiras escolhas e das participações brasileiras

As sete primeiras escolhidas do WNBA Draft de 1998. Foto: Ray Amati / Getty Images

A criação da Women’s National Basketball Association (WNBA, ou Associação Nacional de Basquete Feminino, em tradução livre) foi determinada em 24 de abril de 1996 e a estreia nas quadras aconteceu em junho do ano seguinte, nos Estados Unidos. O campeonato é composto por uma fase de grupos e uma fase eliminatória (playoffs ou mata-mata). Atualmente, a Liga conta com 12 equipes dividas em duas conferências.

A Conferência Oeste é formada por: Minnesota Lynx (quatro títulos), Los Angeles Sparks (3), Phoenix Mercury (3), Seattle Storm (3), Dallas Wings e Las Vegas Aces. Já a Conferência Leste tem: Washington Mystics (um título), Indiana Fever (1), Connecticut Sun, Chicago Sky, New York Liberty e Atlanta Dream. Para saber mais sobre a história das franquias, clique aqui.

A WNBA conta com um total de 144 atletas e, para integrar um time, as jogadoras passam por um sistema de recrutamento, conhecido como draft. A cerimônia é transmitida pela ESPN americana desde 2005.

Eu quero você: o funcionamento do WNBA Draft

Renee Brown, Chefe de Operações de Basquete e Relações com Jogadoras, anuncia as selecionadas de 2012
Foto: Brian Babineau / Getty Images

O processo é divido em três rodadas, cada equipe tem uma escolha em cada rodada, totalizando 36 escolhas. Esse padrão pode ser reajustado se surgirem novos times ou se franquias forem extintas entre um draft e outro. Trocas de escolhas entre as equipes são permitidas. A divisão do WNBA Draft consiste em duas etapas.

Os quatro piores times (aqueles que não se classificaram para os playoffs) disputam pelas quatro primeiras escolhas numa espécie de loteria. As probabilidades nessa loteria são baseadas nas performances acumuladas, de cada franquia, nas duas últimas temporadas regulares (excluindo as partidas do mata-mata).

O Atlanta Dream teve o pior aproveitamento em 2019 e ficou com a quarta escolha geral do WNBA Draft 2020. Já o New York Liberty, segundo pior time, ganhou a primeira escolha na loteria, de forma inédita, e, através de trocas, obteve ainda a nona e a 12ª escolhas da primeira rodada.

O recrutamento no restante da primeira rodada, bem como na segunda e na terceira, segue em ordem inversa ao aproveitamento das equipes na temporada regular do ano anterior (novamente, os jogos dos playoffs são desconsiderados). Dessa forma, o time com o melhor rendimento na fase de grupos fica com a 12ª escolha (ou seja, a última) de cada rodada.

Em 2019, a equipe melhor ranqueada ao final da temporada regular foi o Washington Mystics, seguido pelo Connecticut Sun e pelo Los Angeles Sparks, respectivamente. A 12ª e última escolha de cada rodada do WNBA Draft 2020 foi do Mystics, o Sun ficou com a 11ª e o Sparks com a 10ª. A franquia de Washington acabou trocando a escolha da primeira rodada com o NY Liberty.

O título da Liga, em 2020, ficou com o Mystics, que superou o Sun na final. Ou seja, o melhor time da fase de grupos venceu a WNBA em 2020, mas isso não é uma regra. O último ano em que isso não aconteceu foi 2015. O Liberty teve o melhor rendimento da temporada regular, mas perdeu o título da Liga para o Indiana Fever.

Quem pode ser “draftada”?: critérios de elegibilidade

Com a ordem do draft definida, buscam-se as atletas que poderão participar dele. As regras obedecem ao artigo XIII do Acordo Coletivo de Trabalho (CBA), assinado pela WNBA e pela Associação de Jogadoras da Liga (WNBPA, Women’s National Basketball Players Association). O último CBA foi firmado em janeiro de 2020 e tem sete anos de validade. Os três principais critérios de elegibilidade são:

  • Ter concluído o ensino médio há quatro anos ou ser formada num curso de ensino superior de, pelo menos, quatro anos de duração. A graduação pode ser concluída até três meses depois da realização do draft
  • Não ter mais elegibilidade intercolegial ou renunciar à mesma
  • Ter pelo menos 22 anos, para americanas, ou 20, para estrangeiras (considerando até 31 de dezembro do ano do draft)

As jogadoras estrangeiras são aquelas que vivem ou nasceram fora do território dos Estados Unidos e nunca jogaram por uma universidade americana, critérios válidos tanto para o nível amador quanto para o profissional.

Ninguém pode participar desse recrutamento mais de duas vezes e nenhuma atleta pode assinar contrato com times da WNBA sem ter sido elegível em pelo menos um draft. A jogadora pode ser contratada fora do draft, mas ela precisa ter sido elegível no processo pelo menos uma vez.

A possibilidade de declaração de elegibilidade antecipada segue as regras federais dos Estados Unidos. As candidatas que quiserem fazê-la devem notificar a Liga até 10 dias antes do draft, assim como renunciar a qualquer elegibilidade nos campeonatos da National Collegiate Athletic Association (NCAA, ou Associação Atlética Universitária Nacional, em tradução livre).

Os torneios da NCAA normalmente acontecem de meados a final de março ou início de abril e o WNBA Draft, em abril. Portanto, a atleta, cuja equipe ainda estiver jogando após o intervalo de 10 dias, deve fazer a declaração de elegibilidade antecipada nas 24 horas seguintes ao último jogo de seu time, mas não menos que três horas antes do início programado do draft. Em 2019, por exemplo, a final de basquete feminino da NCAA aconteceu no dia 7 de abril e o WNBA Draft, no dia 10 do mesmo mês.

No entanto, a prática de declarar elegibilidade antecipada não é muito comum na WNBA por conta do alto limite de idade. Na National Basketball Association (NBA, ou Associação Nacional de Basquete Masculino), por exemplo, a idade mínima é de 19 anos.

Terminado o WNBA Draft, o time tem até sete dias para fazer uma proposta à jogadora, que não pode negociar com nenhuma outra equipe. Se a atleta não assinar esse contrato, a franquia que a draftou detém exclusividade de negociação até o próximo draft. Caso a jogadora não assine com esse time dentro de um ano e for recrutada por outro na seleção seguinte, segue-se a mesma regra de exclusividade de negociação até um terceiro draft.

Negócios à parte: remuneração, extensão contratual e bônus

As cifras desses contratos são especificadas no CBA de acordo com a rodada e a escolha nas quais a atleta foi selecionada no WNBA Draft, impossibilitando negociação entre as partes. Esse valor é pago somente durante o período em que a jogadora efetivamente faz parte da equipe. Se a atleta for cortada antes do início da temporada, não receberá nada. Caso seja dispensada no meio da temporada, receberá a fração do contrato correspondente ao tempo em que integrou o plantel.

Base salarial para as selecionadas no WNBA Draft 2020. Foto: Reprodução / Her Hoop Status
*A categoria “picks 9–12” compreende da nona até a eventual última escolha do draft

Entre a primeira e a segunda temporadas, a rookie (caloura, em tradução livre) recebe um aumento de 2% no salário base. Já entre a segunda e a terceira, o acréscimo é de 10%. Todas as selecionadas no WNBA Draft recebem contratos de três temporadas, permitindo renovação unilateral por mais um ano (o tm option da tabela).

Caso a equipe opte por essa renovação, deve notificar a atleta até 15 de maio no ano seguinte à segunda temporada jogada, período costumeiramente compreendido na pré-temporada do terceiro ano do contrato. Essa decisão é exclusiva da franquia, não podendo ser recusada pela jogadora, e o salário é determinado pelo CBA, não permitindo negociação. Diferentemente dos três primeiros anos de contrato, o vínculo do quarto ano é protegido, fazendo com que a atleta seja remunerada mesmo se estiver machucada ou for cortada.

Lauren Cox foi a terceira escolha geral do WNBA Draft 2020, sendo recrutada pelo Indiana Fever, com quem assinou um contrato de três anos. Caso a franquia opte por estender esse acordo, deve comunicar Cox até 15 de maio de 2022. Sendo feito isso, durante a temporada de 2023, a jogadora receberá U$ 86.701, como determinado no CBA.

Terminado o contrato de rookie (com ou sem a extensão), as jogadoras são categorizadas como free agent (ou agente livre, em tradução livre). Nesse cenário, a Liga permite remunerações até o teto salarial a fim de incentivar as atletas a permanecerem na equipe que as draftou. As especificações de free agents serão abordadas em outro texto.

As jogadoras ainda podem receber bônus equivalentes ao desempenho da franquia, assim como prêmios individuais. A Rookie of the Year (ou caloura do ano, em tradução livre) recebe um bônus de U$ 5.150 e as atletas nomeadas ao All-WNBA Rookie Team (espécie de seleção de calouras), U$1.500.

Bases salariais das selecionadas nos drafts de 2021 a 2023. Foto: Reprodução / Her Hopp Status

As cifras das rookies sofrerão incrementos anuais de acordo com o novo CBA. A classe de um ano terá um aumento de 3% no salário base em relação à classe do ano anterior. Ou seja, a primeira escolha do WNBA Draft de 2020, Sabrina Ionescu, ganhará 3% a menos em sua temporada inicial do que a primeira selecionada de 2021. Para saber mais sobre esses valores, clique aqui.

Primeiras Escolhas: o caminho até Ionescu

O WNBA Draft é majoritariamente formado por atletas das ligas universitárias americanas. Entre as 24 primeiras escolhas, apenas a polonesa Margo Dydek (1998), a belga Ann Wauters (2000) e a australiana Lauren Jackson (2001) não vieram de universidades locais.

A University of Connecticut (UConn) é a maior produtora de primeiras escolhas, são cinco: Sue Bird (2002), Diana Taurasi (2004), Tina Charles (2010), Maya Moore (2011) e Breanna Stewart (2016). O “pódio” do draft de 2016 foi todo formado pelas huskies da UConn. Nenhuma outra universidade produziu mais de duas primeiras escolhas.

Primeiras escolhas do WNBA Draft entre 1997 e 2008

Ter a primeira escolha geral pode mudar os rumos de uma franquia. Diana Taurasi vestiu a camisa do Phoenix Mercury em 2004 e se tornou a cara da equipe. A camisa 3 deu identidade ao time e foi essencial para a evolução das companheiras. Com três títulos da WNBA e o recorde de maior pontuadora da Liga (8.575 pontos), a armadora é a melhor primeira escolha da história do WNBA Draft segundo Mechelle Voepel, repórter da ESPN americana que ranqueou as 23 primeiras escolhas do draft.

Na sequência dessa lista está Maya Moore (2011) e Tina Thompson (1997), respectivamente. A primeira disputou seis playoffs em oito temporadas pelo Minnesota Lynx e foi eleita a Most Valuable Player, MVP, ou Jogadora Mais Valiosa, em tradução livre), em 2014. Thompson foi uma peça fundamental no tetracampeonato do Houston Comets (franquia extinta em 2008). Com 17 anos de carreira, ela é a segunda maior pontuadora da Liga (7.488 pontos).

Primeiras escolhas do WNBA Draft entre 2009 e 2020

O top 5 do ranking fica completo com Lauren Jackson (2001) e Sue Bird (2002), respectivamente. A dupla transformou o Seattle Storm no começo do século. Durante 10 anos, Jackson fortaleceu o ataque e a defesa, ergueu dois títulos da WNBA e foi eleita MVP três vezes. Em 2007, a australiana performou o que é considerada a melhor temporada individual da história da Liga ao acumular 23.8 pontos, 9.7 rebotes e 2.0 bloqueios por jogo.

Já Sue Bird é uma das principais personalidades do basquete feminino. Tricampeã em Seattle, é uma espécie de embaixadora da franquia e da WNBA. Hoje, com 39 anos, segue vestindo amarelo e verde e comandando a nova geração do Storm. Para conferir a lista completa de Voepel, clique aqui.

A caloura entre as primeiras escolhas é Sabrina Ionescu, responsável por colocar a University of Oregon nessa posição pela primeira vez. A armadora é a única jogadora na história do basquete universitário (feminino e masculino) a terminar com pelo menos 2.000 pontos, 1.000 rebotes e 1.000 assistências, mesmo sendo impossibilitada de disputar as finais em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Segundo Kelly Graves, técnico de Oregon, “Nunca houve alguém como ela antes e pode ser que nunca exista outra”.

Ionescu foi anunciada como a primeira escolha do WNBA Draft 2020, selecionada pelo NY Liberty, numa cerimônia virtual (por conta da pandemia) e sua camisa nova-iorquina esgotou em menos de uma hora. Após negociar com Nike, Puma e Under Armour, a armadora assinou um contrato com a Nike que é tido como o mais lucrativo da história do basquete feminino. O status de superestrela de Sabrina Ionescu promete revolucionar a WNBA.

No decorrer da história, a cerimônia e os uniformes passaram por muitas mudanças e você pode conferir essa viagem no tempo clicando aqui. Em comemoração ao aniversário de 20 anos, a WNBA compilou os anúncios de todas as primeiras escolhas em um vídeo.

Brasileiras no WNBA Draft

Amaya Valdemoro e a brasileira Janeth Arcain comemoram o título de 1998 da WNBA.
Foto: Bill Baptist/Getty Images

Ao todo, seis brasileiras participaram do WNBA Draft. A pioneira foi Janeth Arcain, selecionada pelo Houston Comets em 1997 com a 13ª escolha da segunda rodada. A armadora foi a primeira sul-americana na Liga e segue como a única estrangeira tetracampeã. No ano seguinte, o Washington Mystics estreou na WNBA e recrutou Alessandra Oliveira. A pivô ainda defendeu as cores do Indiana Fever e do Seattle Storm. Cíntia dos Santos (ou Cíntia Tuiú) foi a quarta escolha geral em 2000. A pivô vestiu a camisa do Orlando Miracle.

Já a ala Kelly dos Santos entrou no plantel do Detroit Shock como a sexta escolha da quarta rodada do recrutamento de 2001. O estreante Atlanta Dream selecionou Érika de Souza em 2008. A pivô liderou a Liga em rebotes e foi selecionada para o jogo das estrelas (All-Star Game) na temporada seguinte. A última aparição brasileira no WNBA Draft foi em 2012. A pivô Damiris Dantas foi recrutada pelo Minnesota Lynx com a 12ª escolha geral.

  • Todos os artigos referenciados nessa publicação são provenientes de portais ou instituições americanas e, portanto, estão redigidos em inglês.

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